Foto:Século Diário
“Ele nasceu em distrito, foi professor em escola pública. A gente conta com essa experiência pessoal dele de vida para se sensibilizar com a nossa causa”, conta o líder comunitário de Alegre (sul do Estado), Eduardo Fernandes, referindo-se ao desembargador Manoel Alves Rabelo, a quem foi remetida a ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Estadual (MPES) em nome das comunidades Vila do Café, Anutiba e Araraí, que lutam pela sobrevivência de suas respectivas escolas estaduais de ensino fundamental e médio (EEEFMs).
A ação já obteve liminar da Justiça em novembro, fazendo com que o Estado reabrisse as matriculas e rematrículas. O governo, no entanto, recorreu e, na audiência de conciliação realizada nessa quarta-feira (13), se negou a atender o clamor das comunidades e afirmou, conforme registrado em ata, que, encerrado o período de matrículas, irá avaliar a possibilidade de algum remanejamento.
“O Estado não apresentou proposta alguma e não aceitou a do Ministério Público, de que se cumpra a LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação] e a oferta de ensino onde se encontra a comunidade”, relata Eduardo, um dos representantes das comunidades presentes na audiência.
Momentos antes da audiência, uma comovente mobilização popular levou às ruas de Alegre um número expressivo de representantes das três comunidades escolares, que só não foi maior devido às fortes chuvas. A intenção é fazer chegar ao desembargador a emoção que emanou da manifestação das lideranças comunitárias, alunos e familiares.
Além disso, a orientação é para que as famílias façam as matrículas o quanto antes. “Eles podem alegar algum problema no sistema e deixar muita gente de fora”, previne o líder comunitário, escaldado com a estratégia adotada em relação à Educação de Jovens e Adultos (EJAs), cujas unidades localizadas nos distritos rurais já foram todas fechadas. “Ninguém no EJA está conseguindo fazer matricula no sistema da Sedu”, denuncia, apontando mais um desrespeito à Constituição federal e à LDB. É uma crueldade com os estudantes.
“Uma jovem que ficou grávida, por exemplo, e teve que trancar matrícula por um período...se quando ela puder voltar, tiver mais de 18 anos, só poderá se matricular no EJA. Mas se ela tiver que ir até a sede pra estudar, provavelmente, vai abandonar”, exemplifica, tocando em um fenômeno que tem se multiplicado em comunidades rurais nos quatro cantos do Espirito Santo.
“Aumentou muito a evasão. E a transferência de todo o ensino médio pro período vespertino também foi muito ruim, porque muitos jovens precisam trabalhar pra ajudar no orçamento familiar”, lamenta Eduardo.
O líder comunitário conta ainda que, nos bastidores da Superintendência de Educação, moradores do município têm ouvido a intenção da Secretaria Estadual (Sedu) de juntar algumas turmas, criando salas multisseriadas, o que prejudica gravemente o desempenho dos alunos. “Isso não é gestão participativa, é unilateral”, protesta.
Século Diário
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