Emanuela Quelho não conseguia mais ficar em sala de aula - passava mal durante e depois dos vestibulares
Emanuela Quelho, de 23 anos, sonhava em ser médica desde criança. Durante os quatro anos de cursinho, ela enfrentou crises de ansiedade e síndrome do pânico. Passava dias trancada no quarto, desmaiou depois de um vestibular, vomitava antes de fazer as provas.
Depois de começar a se tratar, seu desempenho melhorou e ela foi aprovada na Universidade de Marília. Desde então, ela atualiza a página do Medmotiva no Facebook – um projeto que criou para colher depoimentos de estudantes de medicina e incentivar aqueles que ainda não entraram na faculdade.
“Só consegui passar no vestibular depois que comecei a me tratar. Um professor me disse que eu não estava conseguindo por causa da minha ansiedade, não da falta de conteúdo. Passei a treinar: ficava na sala da coordenação fazendo uma prova, tentando ficar calma”, diz. “Fui atrás de terapia e tomei remédio. Fiquei focada. E quero ajudar quem está passando por essa aflição”, completa.
Durante o segundo ano de cursinho, Emanuela fez uma promessa: quando fosse aprovada, encontraria um meio de ajudar os candidatos que também estavam na angústia da espera pela vaga em medicina.
Anos depois, quando estudava e trabalhava em um ambulatório, uma paciente contou a ela que havia visto o marido, dois irmãos e o pai morrerem no hospital. E ouviu da senhora: “Doutora, minha missão é ficar com as pessoas até o final, para mostrar que elas não estão sozinhas”. Foi aí que a jovem concluiu: sua missão também era ficar com as pessoas até o fim.
Ela criou a página no Facebook e postou depoimentos de amigos da faculdade. “Contei a história de um deles, que só foi aprovado aos 27 anos. As pessoas começaram a gostar, aí fui procurando gente no Brasil inteiro. Passei a gravar vídeos também, com técnicas de motivação e dicas para superar a ansiedade”, conta. “Na véspera de um Enem, postei um vídeo ‘Enem é amanhã, e agora?’ e consegui 50 mil visualizações na manhã seguinte”, diz Emanuela.
Atualmente, o Medmotiva já tem mais de 15 mil curtidas e traz depoimentos emocionantes: de um menino com uma síndrome congênita que foi aprovado em uma universidade federal; de uma jovem que passou em medicina e ganhou um estetoscópio de presente do avô, vendedor de água de coco; entre outros.
“Meu pai, que é médico, ficou impressionado com o sucesso da página. Ele se inspirou em mim e criou um grupo no Whatsapp para ajudar estudantes a resolver casos da medicina e debater assuntos relacionados à profissão”, conta.
Ansiedade e pânico
Emanuela nasceu no interior de Mato Grosso do Sul e se mudou para a capital, Campo Grande, no terceiro ano do ensino médio. Ela já sonhava em ser médica, porque queria trabalhar na ONG Médico sem Fronteiras, na África.
Quando chegou à cidade, percebeu que tinha uma defasagem grande no conteúdo. “Foi um baque. Matemática virou um bicho de sete cabeças. Minha meta deixou de ser passar no vestibular – só queria ser aprovada e acompanhar a turma”, diz.
No ano seguinte, começou a fazer cursinho. Depois de muito esforço, não foi aprovada. “Tive crise de ansiedade e desmaiei no Enem quando saí da prova. Em um outro vestibular, em São Paulo, tive crise de pânico. Foi a primeira vez”, relata a jovem.
Aos 18 anos, então, ela decidiu mudar de cidade. Foi para Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, sem conhecer ninguém. E a pior fase começou. “Eu achava que ia morrer. Não conseguia ficar na sala de aula, me trancava no banheiro. Virava a noite no pensionato sem dormir, sentada na cozinha. Comecei a engordar, a ter insônia, não queria mais fazer nada”, diz.
“Não tinha contado para os meus pais. Quando minha mãe apareceu para uma visita surpresa, ficou assustada com o meu estado. Aí busquei terapia e ajuda.”
Por sugestão do pai, Emanuela se mudou para Presidente Prudente, a 5 horas da cidade onde sua família morava. Era seu terceiro ano de cursinho. “Meu avô faleceu. Eu tive crises e abandonava as provas. Não conseguia. Assinalava qualquer alternativa nas perguntas só para sair da sala”, diz. Foi aí que voltou para Campo Grande, para o quarto ano de preparo para o vestibular.
“Não aguentava mais. Aí decidi me cuidar, com terapia e remédio. O resultado de uma das faculdades saiu em novembro e eu estava na lista de espera. Era fevereiro e ninguém havia me chamado. Já estava arrumando o material para meu novo ano no cursinho. Até que meu pai me ligou e disse ‘e aí, já está com as malas prontas? É para valer’. Começamos a chorar”, diz.
No dia seguinte, eles viajaram para Marília, em São Paulo e fizeram a matrícula na universidade. “Estou indo para o 3º ano de medicina. Mas não esqueço que tem gente passando pelo que eu passei. Por isso, tento ajudar.”
Por Luiza Tenente, G1
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