Foto/Reprodução Tv Globo
O Ministério Público Federal apresentou as alegações finais no processo da operação Cadeia Velha, que desvendou um esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Rio. Os procuradores pedem a condenação dos deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do MDB.
Os procuradores afirmam que Picciani, Melo e Albertassi integravam o núcleo político da organização criminosa e que ao lado de empresários, os deputados se aproveitaram dos cargos para enriquecimento pessoal e fortalecimento político, em troca de vantagens ou blindagem de interesses de grupos econômicos específicos.
O Ministério Público Federal cita o episódio em que Edson Albertassi foi indicado ao cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, em novembro do ano passado. A vaga oferecida era do ex-conselheiro Jonas Lopes, delator que revelou um esquema de corrupção no tribunal.
Na época, a indicação de Albertassi virou uma queda de braço, já que outros indicados teriam desistido de concorrer porque sofreram pressões. O Psol conseguiu uma liminar na Justiça para evitar a indicação - que também foi questionada pela Associação Nacional dos Ministros e Conselheiros-substitutos dos Tribunais de Contas.
Os procuradores acusam Edson Albertassi de tentar reverter a decisão judicial através de contatos com integrantes do Ministério Público e da Justiça. O deputado também falou com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão. A conversa foi interceptada e aconteceu pouco antes da operação Cadeia Velha, em novembro do ano passado.
Na conversa, Albertassi diz que a desembargadora responsável deu 72 horas para manifestações sobre a ação da Associação dos Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas que pedia a anulação da indicação dele.
Pezão então pergunta sobre a desembargadora: "quem é essa mulher?" e Albertassi responde: Maria Inês Galvão e os dois afirmam que não a conhecem. O nome correto da desembargadora é Maria Inês Gaspar.
Outra ligação mostra como o grupo tentava influênciar as votações na Alerj. Em um diálogo - também gravado pela polícia - o presidente da Alerj, Jorge Picciani, conversa com o deputado estadual Bruno Dauaire.
A ligação foi feita logo depois de o Tribunal Regional Federal da 2ª Região decretar a prisão de Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, em 16 de novembro de 2017. Na conversa, Picciani pediu a Bruno Dauaire que votasse contra a manutenção das prisões, na sessão da Alerj convocada para o dia seguinte.
Na ligação, Picciani avisa então que a sessão está marcada para 15h e diz: "preciso de você". Bruno concorda e pergunta: "amanhã você vai estar cedo aí?". Picciani é enfático: "não, amanhã vocês é que vão me fazer voltar".
Apesar do pedido de Picciani, na votação, Bruno foi o único que se absteve. Trinta e nove deputados votaram a favor da revogação das prisões e 19 contra.
Segundo o Ministério Público Federal, ficou evidente não só a força da organização criminosa, como a atuação do grupo dentro de diversos setores do estado.
Para os procuradores, não impressiona o fato de, até hoje, quase um ano depois da operação cadeia velha, a Alerj não ter aberto nenhum procedimento disciplinar para apurar as condutas dos três deputados, que continuam com a estrutura que tinham desde antes da operação, inclusive com a manutenção dos assessores mais próximos. Além disso, eles continuam recebendo salários e verbas de gabinetes.
A defesa de Albertassi disse que as alegações finais do MP "desconsideram todas as provas colhidas, que interpretam os fatos e insistem cegamente na condenação de um inocente".
A defesa de Paulo Melo reafirmou a inocência do deputado e disse que não há gravação telefônica, conta no exterior e nem qualquer prova contra ele, apenas a palavra de delatores.
A assessoria do governador Luiz Fernando Pezão disse que a indicação de Albertassi para o Tribunal de Contas do Rio aconteceu depois da desistência de três conselheiros substitutos e que Pezão não tinha qualquer participação em atos ilícitos eventualmente praticados por Albertassi.
Até a publicação da reportagem, a defesa Jorge Picciani não havia se posicionado.
G1
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