Foto/ Estefan Radovicz / Agência O Dia
Servidores dos dez deputados presos acusados de transformar a Assembleia Legislativa (Alerj) em uma propinolândia são usados como 'soldados' do esquema de corrupção. Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificaram na operação 'Furna da Onça' que só funcionários dos gabinetes dos deputados Luiz Martins (PDT), coronel Jairo (SD), Marcos Abrahão (Avante), e André Corrêa (DEM), fizeram movimentações suspeitas de mais de R$ 30 milhões, entre 2011 e 2014. Chiquinho da Mangueira (PSC), também presidente da Verde e Rosa montou outro esquema: segundo o Coaf, utilizou o Instituto Mangueira e a mãe, Maria Celeste Ferreira de Oliveira. Em 2017, sem levar em conta as operações em espécie, chamam a atenção a movimentação de mais de R$ 30 milhões.
Oito funcionários e ex-servidores dos parlamentares foram presos, entre eles, a chefe de gabinete de Marcos Abrahão, Alcione Chaffin de Andrade Fabri, que só entre 2016 e 2017 'mexeu' com R$ 845 mil, e Shirley Aparecida Martins Silva, ex-chefe de Gabinete de Edson Albertassi, que era subsecretária de Estado de Ciência e Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social. Ela é apontada como peça-chave no esquema montado por Albertassi que teria recebido entre mensalinhos e prêmios R$ 4,8 milhões.
O gabinete do deputado Luiz Martins é apontado como o recordista de movimentação financeira suspeita R$ 18 milhões. Em 2016, há rastreamento de um servidor que movimentou sozinho R$ 1,4 milhões. Mas o maior fiel escudeiro de Martins seria seu enteado, o vereador Daniel Martis (PDT), que também foi preso. Ele foi reconhecido como o responsável por receber dinheiro ilícito por um funcionário dos doleiros Leandro Barboza e Vinicius Claret. De uma tacada só, Daniel, que foi servidor da Alerj em 2009, recebeu R$ 400 mil.
No ranking do Coaf, o gabinete do Coronel Jairo é o segundo com R$ 10 milhões. Mas, no pedido de prisão do Ministério Público, conta que ele recebia o dinheiro pessoalmente.
Seguidores fiéis
Os servidores são seguidores fiéis dos deputados. José Antônio Wermelinger Machado foi funcionário da Alerj de 2002 a 2015, na maioria das vezes, no gabinete de André Corrêa. Em 2015 doou R$ 205 mil para campanha. Seguiu Corrêa na Secretaria Estadual de Meio Ambiente, quando o parlamentar saiu, ele foi o secretário interino. Em 2018, voltou à Alerj. Sozinho, em 2012, Machado movimentou mais de R$ 1 milhão. Marcus Vinicius, o Neskau, acusado de receber R$ 2,4 milhões pessoalmente não larga de um assessor que o acompanhou na Secretaria de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, em 2013.
Vazamento de informação
O desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, negou ontem pedidos de liberdade de sete dos acusados com prisão temporária. Gomes apontou indícios de vazamento de informações sobre as diligências da Polícia Federal, que executou 22 mandados de prisão e 47 de busca e apreensão, quinta-feira.
"O conhecimento prévio por parte de investigados, que acabaram, ao que tudo indica, por destruir e ocultar provas", escreveu Gomes, que mandou investigar o caso. Os pedidos foram dos deputados Marcelo Simão, Coronel Jairo, André Corrêa e Chiquinho da Mangueira,e de Shirley Aparecida, Affonso Monnerat, e José Machado.
Witzel vai tentar reaver dinheiro
O governador eleito Wilson Witzel (PSC) afirmou que o Estado vai recorrer à Justiça para recuperar a fortuna que abasteceu o propinoduto da Alerj. Segundo o Ministério Público Federal, o esquema de pagamento de suborno a, pelo menos, 10 deputados estaduais movimentou R$ 54 milhões, entre 2011 e 2014.
"Orientei o futuro procurador-geral, que será anunciado na semana que vem, a tomar medidas para reaver eventuais prejuízos. Acredito que a gente possa melhorar o orçamento com essas medidas judiciais', disse. Acrescentou que tais medidas já foram tomadas pela União, no caso da Lava Jato, o que "já reverteu, inclusive, dinheiro para o Rio".
Por Adriana Cruz/O Dia