Dezenas de pessoas aguardam,
em vão, a emissão de documentos na sede
do Detran, no Centro-Foto:Guilherme Pinto/ Agência O Globo
Os dez deputados presos na quinta-feira na Operação Furna da Onça, acusados de terem recebido propina em troca de apoio ao governo, lotearam postos do Detran em 20 municípios do Estado do Rio, incluindo a capital, segundo as investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Nessas cidades, ficam 139 unidades onde são feitos serviços de habilitação, identificação civil e vistoria. O número representa 32% de um total de 434 postos. Com um histórico de corrupção, o Detran se tornou uma espécie de “galinha dos ovos de ouro” de um estado em crise, com nove mil funcionários e um faturamento de R$ 1,52 bilhão no ano passado.
Os procuradores federais descobriram que o departamento foi fatiado pelos políticos. Os cargos eram oferecidos aos deputados em troca de apoio político, de acordo com a região de influência de cada parlamentar. Tanto que a investigação descobriu que os acusados foram mais votados na região onde os postos estavam sob o seu domínio.Os procuradores federais descobriram que o departamento foi fatiado pelos políticos. Os cargos eram oferecidos aos deputados em troca de apoio político, de acordo com a região de influência de cada parlamentar. Tanto que a investigação descobriu que os acusados foram mais votados na região onde os postos estavam sob o seu domínio.O deputado Chiquinho da Mangueira (PSC), um dos presos anteontem, tinha 74 cargos nos postos que ficam em seu reduto eleitoral: Benfica, Mangueira e Vila Isabel. Paulo Melo, preso há quase um ano, concentrava suas indicações justamente em Saquarema, seu principal nicho. Coronel Jairo, que recebeu muitos votos em Bangu e Campo Grande, exercia influência nos postos da Zona Oeste. Conversas telefônicas interceptadas pela PF mostram que o respeito a essa divisão era uma regra rígida.
Cabia ao deputado Jorge Picciani (MDB), que está preso há um ano, a maior fatia do bolo, com indicações a cargos em postos em mais cidades: Nova Iguaçu, Queimados, Belford Roxo, São João de Meriti, Teresópolis e Três Rios. Em planilhas encontradas no notebook do deputado Edson Albertassi, então líder do MDB na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e um dos supostos beneficiados no esquema, o MPF descobriu o número de cargos disponíveis para cada parlamentar.
Serviços suspensos
Numa conversa gravada pela polícia, Alcione Chaffin Fabri, chefe de gabinete de Marcos Abrahão (Avante), um dos cinco deputados presos que foram reeleitos este ano, detalha as áreas de influência do parlamentar. “Ele pode te arrumar emprego se você quiser trabalhar em Itaboraí, Rio Bonito, Cachoeira de Macacu, Tanguá, Silva Jardim ou Casimiro de Abreu. Escolhe o município que ele te arruma”, diz ela. Num outro momento, ela explica como funciona o esquema de corrupção: “O estado é um bolo. Ele é dividido em fatias. Cada um tem uma fatia”.
Na ação da PF de anteontem, 22 pessoas foram presas, entre elas sete deputados estaduais e um vereador. Outros três deputados também tiveram a prisão decretada, mas já estavam na cadeia. Também foram alvos da operação o ex-presidente do Detran Vinícius Farah e o então presidente do Detran, Leonardo Silva Jacob, exonerado ontem pelo governador Luiz Fernando Pezão. O reflexo foi imediato para quem precisa do Detran. A emissão de certificados de veículos, identidade civil e da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) que precisam da assinatura eletrônica do presidente do órgão precisou ser suspensa.
Jornal Extra
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