Desde 1899, sob a jurisdição da Diocese do Espírito Santo, a igreja Católica em São José do Calçado, na Região do Caparaó, é conhecida pelos badalos do sino italiano doado por dom Pedro II, em 1879, e pelos ex-padres estrangeiros, que nela exerceram o sacerdócio. Os sinos da Igreja Matriz voltaram a repicar em 2013, depois de 12 anos de silêncio.
O aposentado Geraldo Basílio de Souza, de 78 anos, conhecido como ‘Jadinho’, foi sacristão aos 8 anos e dos 6 aos 17, era responsável pelas badaladas dos sinos. Ele conta que o sino anunciava mortes, chamava o povo para as missas, alertava sobre riscos de enchentes e incêndios na comuna, saída de procissões e chegada das mesmas.
“Toquei os dois sinos entre 1944 a 1954. Nos funerais o sino era tocado quando o cortejo subia a ladeira, parava de bater quando o caixão chegava à porta do templo, e depois reiniciava as badaladas quando o corpo seguia para o cemitério. Hoje já não anunciam as mortes, mas tocam três vezes diariamente: às 6 horas, ao meio-dia e às 18 horas, além das três badaladas antes do início das missas.
Ele coordenador do Circulo Bíblico e Presidente da Congregação Mariana, afirma que aos 6 anos, fez catequese, aos 7, Primeira Comunhão, e aos 9, ajudava o Padre austríaco Francisco Maria Robier, a celebrar missa em latim.
“Padre Robier está sepultado nos Estados Unidos. Ele ficava de costas na celebração e eu, transmitia o que ele dizia em latim. É triste ver o latim esquecido nos dias de hoje. Aos 13 anos, estava na Liga Católica Jesus, Maria e José, que foi criada em 1919. Já com 16, fui convidado a fundar a Congregação Mariana, e sou o único fundador em atividade”, explica.
Jadinho que tem 70 anos de caminhada católica, por 13 anos atuou como Ministro da Eucaristia e 10 Ministro da Palavra, revela que a Procissão de 9 dias de São José, começou em 2001, com o falecido padre Ênio Octávio Fazôlo, nascido em 5 de junho de 1929, no município de Alegre e falecido em 20 de junho de 2001, em São José do Calçado.
“Tenho saudades de algumas tradições extintas, até mesmo de quando o caixão passava pela igreja e era aberto, e eu estava lá prestando atenção nos sapatos que os falecidos usavam, pois era costume da época. Não estou mais novinho, mas continuo na ativa, usando meu terço que tem quase 100 anos”, enfatiza.
A Paróquia São José sempre teve padres estrangeiros como Júlio Fréour (França), Francisco Maria Robier (Áustria), Elias Tommasi Podestá (Itália *17/12/1873 + 04/03/1955, Rio de Janeiro) e Amando Geerts (Holanda). O holandês Amando Geerts não dispensava o cigarrinho, foi o mais divertido. Durante as missas vestia uma surrada batina preta e sobre ela um manto branco. O que marcou os seus 32 anos de sacerdócio na comuna, interrompido aos 2 de maio de 1986, em um acidente automobilístico fatal, foi à dicção arrastada, fruto do sotaque holandês.
A bancária aposentada Maria do Carmo Almeida Rodrigues, 58, residente em Vitória, na capital, lembra com carinho de quando estudou Francês, na EEEFM Mercês Garcia Vieira, em São José do Calçado, dizendo que padre Amando, era um padre/professor muito rígido com o idioma francês. E na sala de aula só era permitido se comunicar em francês. Se o lápis caísse no chão, tinha que explicar que o objeto caiu e pedir permissão para pegá-lo em francês. E ainda com saudades do padre holandês, guarda com carinho um terço de mais de 90 anos, que pertenceu à sua avó, que faleceu aos 96 anos, em 1990.
Não é uma mocinha de 15 anos, mas tem fôlego de 13. Maria Aparecida de Almeida Cunha (Dona Zizi Almeida), de 97 anos, acompanhou os 9 dias da novena de São José, realizada entre os dias 11 a 19 de março. Ela desde criança mantém sua fé sem se deixar cair pelos obstáculos da vida. E sempre participa. Agora somando a idade dela e da imagem de São José, ultrapassa os duzentos anos.
Sérgio Oliveira/AQUIES