Dados são do INSS, acompanhados nos últimos cinco anos.
Dependentes contam como a situação fugiu do controle.
Há muito tempo Pedro luta contra uma doença. Na caminhada em busca da cura, ele enfrentou preconceitos, foi demitido mais de uma vez e se afastou do trabalho, em diferentes ocasiões, por complicações na saúde. A doença de Pedro é a mesma de João, de Paulo e outros milhares de capixabas que enfrentam diariamente a luta para vencer o vício em álcool e outras drogas. Todos esses nomes são fictícios, mas as histórias e os dramas são bem reais.
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que o número de auxílios-doença concedidos à trabalhadores nessas condições mais que dobrou nos últimos cinco anos no Espírito Santo.
Foi o que aconteceu com Pedro. O primeiro gole foi aos 14 anos, mas naquela época o uso de álcool era apenas nos finais de semana e não interferia nas atividades diárias. O problema foi que, aos poucos, ele perdeu o controle e o trabalho como supervisor em uma empresa de logística ficou comprometido.
“Eu nunca achava que o problema era meu, até que um dia fiquei em uma situação muito ruim. Já tinha perdido um emprego e entrado em outro e a empresa disse ou você entra na clinica para se internar ou vamos te mandar embora”, declarou.
Paulo, que é maquinista, também tenta superar o vício. Durante muitos anos, os atestados no trabalho e afastamentos para tratar a doença fizeram parte da vida dele.
“Eu dava atestado de 15 dias, voltava e dava outros atestados. No fundo no fundo eu sentia vergonha de chegar perto das pessoas. Eu sabia que estava atrapalhando minha vida, que eu estava expondo minha família, eu passava e o pessoal do condomínio ficava me olhando”, relatou.
Estatísticas
Todos os dias, pelo menos duas pessoas com carteira assinada no Espírito Santo são afastadas do trabalho por causa da dependência química.
O levantamento do INSS, feito por meio da avaliação do Código Internacional de Doenças (CID), mostra crescimento contínuo no número de pessoas que solicitaram o benefício devido a problemas com alcoolismo ou dependência em outras drogas. Em 2011 foram 500 afastamentos, já em 2015 o número de auxílios concedidos chegou a 700.
Segundo o chefe do Departamento de Saúde do Trabalho do INSS, Julius Ramalho, os segurados precisam passar por perícia médica para que seja concedido o benefício.
“Não existe período estipulado, o perito tem autonomia para conceder o tempo que ele achar necessário, podendo em alguns casos, chegar a conceder aposentadoria por invalidez. Quando considera-se que este assegurado está em uma situação que não seja capaz de retomar sua capacidade laborativa”, explicou.
Para continuar recebendo o benefício o trabalhador precisa comprovar que faz tratamento, por meio de acompanhamento de um psicanalista ou até mesmo internações. “O importante é que esse indivíduo esteja buscando o tratamento, querendo realmente buscar sua recuperação”, complementou Julius.
R$ 900 mil com auxílios-doença em apenas um mês
Entre os meses de janeiro a abril deste ano 433 pessoas começaram a receber o auxílio-doença no Espírito Santo. Sendo que apenas no mês de em abril os custos desses afastamentos chegaram a R$ 902 mil. Esses valores podem ser ainda maiores se forem consideradas as doenças secundárias provocadas pelo consumo excessivo de drogas e álcool.
A organização Mundial da Saúde (OMS) considera o alcoolismo uma doença. Mas, quem sofre com a dependência de bebidas alcoólicas ainda tem de conviver com o preconceito. Atualmente o Espírito Santo conta com um centro de atenção ao dependente químico, que funciona no Centro de Vitória. No local são realizados atendimentos por meio de uma equipe multidisciplinar.
Casas terapêuticas
O chefe da coordenação Estadual Sobre Drogas, Gilson Giuberti, explica que após atendimento os usuários de álcool ou drogas são encaminhados para rede assistencial, que conta com mais de 300 casas terapêuticas.
“A questão da dependência química não está ligada à classe social. Ela está presente em todas as camadas sociais. Obviamente em um país com distribuição irregular de renda, nós vamos encontrar mais pobres envolvidos com uso indevido de drogas”, informou.
Instituições filantrópicas e organizações como o Alcoólicos Anônimos (AA), também contribuem para recuperação de dependentes de álcool e drogas. Foi no AA que Paulo conseguiu forças para deixar a bebida.
“Eu conversei comigo mesmo, olhando no espelho, e disse: 'A partir de hoje não vou beber mais'. Eu ainda sinto vontade, mas entre morrer e viver, prefiro viver”, relatou.
Infelizmente, nem sempre a luta contra a dependência tem um final feliz. Aliás, para quem supera o vício, essa luta nunca termina. Já para quem vive entre recaídas as perdas não estão somente em bens materiais e na própria dignidade, mas também na confiança e apoio de amigos e familiares.
Da CBN Vitória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário