A maceioense Caroline Alencar, de 36 anos, descobriu um câncer de mama em 2015, quando morava em Fortaleza e estava casada fazia um ano. No entanto, em vez de contar com o apoio do então marido, ouviu barbaridades, como que ela não seria mais desejada por homem nenhum porque perderia seus cabelos e ficaria sem o seio. Ao longo da quimioterapia, realizada em Maceió, onde mora a família dela, Caroline viu nascer em si uma nova mulher.
— Ele disse que ninguém ia me querer, que eu ia ficar careca e mutilada, mas há homens que não são que nem ele e que só mostram o quanto ele foi fraco — afirmou ao EXTRA nesta quinta-feira. — Estou feliz por tudo que ocorreu que foi positivo. Deus me livrou daquele homem, me mostrou que nunca precisei dele pra nada. Graças a Deus estou curada, com um pensamento diferente, sou uma nova mulher, estou bem.
Desde quando se mudou com o marido para Fortaleza, Caroline sentiu um nódulo no seio e comentava com ele que precisava ir ao médico. Ela estava nervosa e tinha o desejo de ir acompanhada ao consultório, para que tivesse um apoio caso recebesse uma notícia difícil de ouvir. Sua família estava toda em Alagoas, onde tudo mudou durante uma visita que deveria ser breve, mas tornou-se definitiva.
— Vim para Maceió visitar minha mãe, nem tinha planejado nada, mas Deus planeja tudo na nossa vida. Cheguei numa terça-feira à noite, falei do nódulo pra ela e, no dia seguinte, fomos ao médico. No quinto dia, levei o resultado no mastologista e tive o diagnóstico. Ali meu mundo desabou. Minha mãe não tinha condições financeiras pra pagar os exames particulares, que eram caros, e ele (marido) não queria me ajudar. Comecei a desconfiar. Disse a ele que eu deveria fazer o tratamento, mas tinha minha casa, meu trabalho. E ele respondeu: "Se você quiser voltar, volte com sua mãe, porque eu não posso parar minha vida". Enquanto isso, minha família disse que eu começaria o tratamento ali mesmo — relatou.
— Ele dizia que ia abrir um estúdio de fotografia para eu trabalhar em Maceió, mas era tudo mentira.
Caroline ressaltou que a participação de sua irmã, que é mãe e casada, no acompanhamento do tratamento foi fundamental. Ela ficou ao seu lado nos momentos difíceis de passar pela quimioterapia e pelas consultas médicas. Durante esse período, veio o término do casamento — por telefone.
— Meu psicológico já estava abalado por causa da doença e ainda veio o abandono do marido. Mas não fico mal pelo abandono, porque isso foi livramento de Deus. O que mais me deixou triste foram as atitudes dele. Isso que me enojou. Ele fazia ligações para mim com outras mulheres, enviava fotos dele com elas e bebidas, mas Deus me mostrou que às vezes a doença vem e não é por mal, é para mudar a vida. Eu nunca perguntei: "Por que comigo, Deus?" — ressaltou.
'Minha cicatriz é a marca da minha vitória'
Para as pessoas que estão enfrentando a doença, Caroline deixa a mensagem de que a fase dos tratamentos, que "não são fáceis", passa e a vida volta a sua normalidade. Ela frisou que compartilhar sua história com outras mulheres pode ajudá-las a ver que superar é possível.
Confira:
"Hoje olho pra trás e vejo tudo isso. Contei com o apoio da minha família, amigas, pessoas que conheci depois e têm carinho por mim. Tem pessoas melhores que ele, que não são que nem ele. Hoje eu superei tudo. Agradeço a Deus pelo tratamento e pela recuperação muito boa. Não precisei fazer radio.
Em relação a ele, naquele momento doeu, tive minha semana para ficar muito mal, mas depois pensei: "Ou fico em casa chorando por causa da doença e do acabandono dele ou tenho minha vida normal". E foi esta última que escolhi.
Passei aquele tempo de 2015 até final de 2016 focada em mim, porque fiz cirurgia, tirei a mama, tive esse tempo, mas de 2016 pra cá tive minha vida normal quanto a relacionamentos. Minha cicatriz é no meio do peito, uma cicatriz muito grande, mas eu me aceito, uso blusa decotada, não tenho vergonha. Ela é a marca da minha vitória.
Penso que expor a minha história ajuda a fortalecer uma pessoa que está passando por situações semelhantes. Tenho que ajudar outras pessoas, sinto que tenho que botar pra fora o que eu passei. Tenho minhas consultas de rotina, que faço de seis em seis meses. Também faço exames todos os anos, mas a minha vida voltou ao normal. Eu quis assim. Não vou deixar de ir a uma praia, a uma festa. Meu cabelo caiu durante a quimio, isso mexeu com a vaidade, mas botava peruca e nunca deixei de sair.
Ele tem a vida dele lá. Depois de um mês que terminou (o casamento), já assumiu outra pessoa. Tive que mudar de número para não ter contato com ele. A última vez que entramos em contato foi no Ano Novo de 2016. Ele mandou foto e uma mensagem de que a mulher dele estava dormindo. E eu disse: "Não tenho nada com isso, vai viver sua vida". Quando a pessoa já está boa, aí ele quer se aproximar? Eu não quis.
Eu trabalhava de segunda a sábado na empresa dele como fotógrafa. Passei seis meses ajudando ele em Recife e, quando fomos pro Ceará montar a empresa dele de fotografia, eu trabalhava de segunda a sábado no estúdio. No começo, nem tinha salário. Eu queria ajudar e dizia que ele não precisava me pagar. Depois ele só mostrou o homem que ele é".
Extra
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