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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

JOVEM GRÁVIDA DE PORCIÚNCULA É ALVO DE OFENSAS RACISTAS NA WEB

Uma mulher negra, grávida de três meses, foi vítima de ofensas racistas, machistas e gordofóbicas depois de entrar no grupo “Graduação da Depressão”, no Facebook, para interagir com outros universitários. Carla Gomes, de 21 anos, de Porciúncula, no Norte do Rio de Janeiro, decidiu comentar em uma postagem que a indignou, com conteúdo discriminatório. Foi o pretexto para uma enxurrada de ofensas a ela, que, de uma hora para outra, viu sua vida pessoal ser invadida por desconhecidos que iniciaram uma perseguição virtual, xingando-a e expondo sua imagem pela rede.
Decidida a lutar contra o racismo que a atingiu, Carla decidiu procurar a polícia para denunciar o grupo. Foi quando viveu outra frustração. A jovem conta que ao chegar à delegacia de Porciúncula, foi aconselhada por um funcionário da delegacia a não registrar ocorrência.
No “Graduação da Depressão”, a maioria das ofensas eram relacionadas à cor e ao tipo físico de Carla. O desabafo da estudante viralizou pela internet, mobilizando pessoas que foram até a página defendê-la, mas também não escaparam das agressões. Muitas meninas que comentavam em defesa de Carla recebiam em troca mensagens como “vai lavar uma louça” ou “feminista fedorenta”. No caso da estudante, o nível dos xingamentos foi ainda pior.
“Me falaram que preto de cabelo ruim não tinha vez naquele grupo, que preto sangue ruim não tinha o direito de estar ali, que eu não valia nada e era apenas uma gorda preta de cabelo duro que tinha que fazer um regime. Foram no meu perfil e fizeram montagem minha. Fizeram piadinha até com a minha gravidez. Eles fazem isso com muita gente, são covardes. Já fui vítima de racismo muitas vezes, mas dessa vez, passaram dos limites”, conta a estudante.
Depois do caso, o grupo “Graduação da Depressão” passou a ser secreto no Facebook. Só pessoas que já estão nele podem visualizar o conteúdo ou convidar novos membros. Um dos administradores do grupo se valeu mais uma vez de comentários preconceituosos para falar sobre a mudança: “A partir de agora, só os administradores postam até eu limpar essa corja de feminista imunda e esquerdista vitimista do cabelo ruim”. A página tem mais de 900 mil curtidas.
Delegacia de Porciúncula
“Fui à polícia, mas um cara lá de dentro, que eu não sei qual é o cargo, me aconselhou a não fazer queixa. Disse que não ia dar em nada, que eu era um grão de areia e fazendo isso ia correr riscos, que ia demorar muito. Ele falou um monte de coisa e eu não fiz o boletim de ocorrência. Ele me disse: “Ih, isso vai demorar muito, ainda mais você que tá grávida… Não pode passar por isso. Às vezes tem que achar IP do computador das pessoas, demora muito”.
“Eu tenho o direito de registrar queixa”, reclama Carla, que, resignada, diz que deixou a unidade policial e registrou a denúncia no portal da Polícia Federal, que recebe ocorrências de crimes cibernéticos.
O titular da DP, Willian Rodrigues Costa, disse desconhecer a história e se colocou à disposição, na delegacia, para atender Carla e qualquer pessoa que for vítima de crimes na internet.
“Ela pode vir aqui me procurar, que vou atendê-la pessoalmente. Eu não fiquei sabendo desse caso, mas vamos ajudar. É um tipo de denúncia que tem que ser feita e estou à disposição dela na delegacia para ajudar”, diz o delegado.
Denúncias
A Polícia Federal tem um canal online para receber denúncias de internautas para quatro tipos de crimes na rede: pornografia infantil, crimes de ódio e genocídio, tráfico de pessoas. Interessados em denunciar casos desse tipo devem entrar no site denúncia.pf.gov.br e preencher um pequeno formulário, com o link da página onde é cometido o crime e um comentário, explicando o caso.

Fonte: extra.globo.com


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