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segunda-feira, 6 de junho de 2016

“O JULGAMENTO É O MESMO”, DIZ MULHER ESTUPRADA 43 ANOS ATRÁS


Foto: Guilherme Ferrari
Violentada aos 19 anos e grávida por causa dessa brutalidade, ela não teve coragem de contar seu trauma a ninguém. Ficou com medo do julgamento que sofreria, do abandono da família e dos amigos. Esse medo, que é o de muitas até hoje, começou 43 anos atrás, quando Elza (nome fictício), 62 anos, passou pelo momento que marcaria os rumos de sua história para sempre.
“Não contei para ninguém porque tive muita vergonha. Tive vontade de falar agora porque não mudou nada do meu tempo para cá. O julgamento é o mesmo”, lamenta Elza.
Ela sempre soube que o que passou tinha sido sofrido. Só não sabia que era crime. Isso ela só constatou mais de 3 décadas depois, quando entrou na faculdade de Direito e aprendeu o que era estupro nas aulas de Código Penal.
Quando sofreu a violência, ela estudava no Colégio Brasileiro e costumava ver seu futuro estuprador no local. “Pensava que ele era um aluno”. Um dia, aceitou sua carona. Em vez de levá-la para casa, como havia prometido, ele a arrastou para o final da Praia de Camburi.
Semanas depois, se descobriu grávida. Não contou nada à família e terminou com o rapaz com quem namorava há três anos. “Eu o amava”. Quando, no trabalho, perceberam sua gravidez, foi mandada embora. Conseguiu um segundo trabalho, mas de novo foi demitida também por estar grávida.
A partir daí passou o restante dos meses da gravidez com o pouco que recebeu após as demissões. “Passei a gravidez me alimentando muito pouco”, lembra Elza.
Criada num ambiente familiar conservador, numa cidade do interior do Estado, só descobriu como nascia uma criança ao entrar em trabalho de parto. “Eu pensava que ela seria uma companhia para mim. Pensei: não vou ficar mais só.”
Um dos episódios que mais a marcam nessa trajetória foi o recebimento de uma carta enviada pelo tio que se oferecia para cuidar da filha de Elza, “desde que ela não continuasse na vida”. 

A Gazeta

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