Octacílio de Aquino, que assinava Octa-Quino, é um dos bonjesuenses considerados gênios da nossa literatura.
Nas primeiras décadas do século XX, brilhou nas letras, como nenhum outro.
Em 1930, lançou o livro "ANTES DA REVOLUÇÃO", impresso na Tipografia Helena, de propriedade dos Irmãos Vasconcelos, de nossa cidade.
O primeiro texto desta obra, que reproduzimos abaixo, para conhecimento do público, além de ter incrível atualidade, dá a dimensão exata de sua cultura, e constitui orgulho para nossa terra.
O RASGA-MORTALHAS DA RUA DO CARMO
Os processos jornalísticos de certa classe no Brasil andam a rastos de barata. Dia a dia resvalam para o campo das retaliações pessoais; e é espetáculo comum a magnitude das teses substituída pelo desconchavo dos ataques soezes. Exemplos, tê-mo-los sem conta, nessa linguagem de porneia onde se recruta a flor das obscenidades no vocábulo, e onde o menos que se perde é o hábito de lhaneza no convívio social. Nesta ordem de ideias baixaríamos a examinar, sem prevenções mas, também, sem misericórdia, o repugnante jornal de Mario Rodrigues, se algum vestígio de fé ressumbrasse ainda dessa Crítica descontrolada, por onde esguicha, diariamente, o vitríolo do ódio contra os vultos eminentes da história em nossos dias. Acontece, porém, que ali se publica, num dos últimos números, em versalete berrante e guarnição de luto, que o sr. Antonio Carlos, ídolo da população mineira e firme condutor da vitória aliancista, estava em transe de morte.
Nenhuma outra voz achou de trazer ao conhecimento público a mentira infame. Foi preciso que essa, já agora a mais aziaga do Brasil, guizalhasse o rebate odiento, opondo a perspectiva de um túmulo ao entusiasmo que vibra, nesta hora de graves conjunturas, n'alma impoluta do preclaro Andrada. Desmesurou-se a protérvia. Excedeu a craveira das abjeções. O libelista inglório, empenhado em votos sinistros de cruzes e sepulcrários, culminou, num desrespeito de raros iguais. Até então gargalaçava, impune, as bicas do vezo difamatório, e era, a tal ponto exceptuado. Mas o respeito à vida humana poupara-lhe, ainda, o lúgubre ofício das hienas. Agora desvenda-nos o articulista do escândalo uma dobra sombria do seu íntimo. E é interessante que no mesmo exemplar, onde o prenúncio grimpa a importância da caixa alta, a continuação fantasiosa do caso da bruxa de Itinga ocupe ainda quase toda a última página. Espírito de bruxedos, Mario Rodrigues reedita, à luz do sol, o macabro mister da megera da meia-noite. Essa a pureza da ética jornalística. Antonio Carlos haure a vida e a saúde nas montanhas de Minas liberal. Pois o profeta da Gávea lhe agoira os estos do coração incorrompido, ao rusgar de mortalhas. Mergulhado, ele sim, no claro-escuro de um ocaso que tomba para os seus triunfos pretéritos, conta arrancar - entre os protestos de um deus que ainda lhe há de bater às portas cerradas do coração - conta arrancar à credulidade comum das massas populares um delíquio de confiança na sorte do regime. Mario Rodrigues, o panfletário imenso da campanha civilista e da Reação Republicana, o dono egrégio das "mãos de artista", na referência de Ruy, sucumbe aos golpes que vibrou contra os píncaros da própria fama. Repudia-o a opinião pública. E ele, encarvoando um passado de raptos fulgurantes, atasca-se na violência, chegando a isto, que nem a mão de Fausto assinaria entre as cláusulas de Mefistófeles. Não há salvação para tamanho opróbrio.
Novembro - 1929.
O Norte Fluminense
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