Apesar de proibidos, lixões a céu aberto existem em pelo menos 16 cidades capixabas, onde pessoas arriscam a vida em meio a urubus, animais mortos e rejeitos contaminados
Primeiro, chegam as sacolas. Depois, os urubus. Então, nesse lugar insalubre, dominado por um cheiro insuportável, cheio de moscas, baratas, ratos e animais mortos, surgem as pessoas em busca de renda e de sobrevivência. Elas arriscam a saúde e mesmo a vida para retirar das montanhas de lixos, em aterros ilegais, materiais recicláveis misturados a rejeitos, alguns contaminados.
Essa triste realidade ainda está presente em pelo menos dois municípios do Estado, onde existem lixões de onde famílias tirando seu sustento num trabalho degradante, sem uso de equipamentos de proteção - como botas e luvas -, vulneráveis a acidentes com itens hospitalares, descartados sem qualquer controle ambiental. Em outras 13 cidades, o descarte dos resíduos ainda é irregular, em aterros controlados, um meio termo entre lixão e aterro sanitário, com grades, mas sem licenciamento ambiental.
Em Apiacá, no Extremo Sul do Estado, a situação não é tão diferente. Por lá, trabalhadores também caçam materiais recicláveis entre os entulhos em outro lixão que já deveria estar extinto. Usando bermuda e chinelo, Romildo Nascimento, de 61 anos, trabalha no local há cerca de dois anos em busca de latinhas de alumínio e fios de cobre. Com o serviço, o rendimento mensal gira em torno de R$ 200 a R$ 300.
“Trabalhei muito na roça, na lavoura de cana. Mas agora não está mais aparecendo nada não. Se aparecesse, eu ia. Em todo lugar está faltando serviço. Para quem não tem estudo é pior ainda. Eu comecei a trabalhar com 7 anos plantando cana. Sete anos, é mole? Agora não pode trabalhar até ter 18”, diz ele, rindo.
Segundo Romildo, a prefeitura já cadastrou 10 pessoas para formar uma associação de catadores no município. No entanto, transformar o terreno alugado que recebe lixo em uma associação é algo que ainda parece longe de acontecer. “Tem que fazer um galpão aqui, trazer uma prensadeira, a ideia é essa. Aí tem que vir água, energia. Falta muita coisa.”
A Prefeitura de Apiacá informou que a associação de catadores foi criada em outubro, com 10 pessoas, e um galpão será construído. A associação ainda vai receber equipamentos do governo do Estado. A prefeitura informou que vai implantar a coleta seletiva, e o lixo deve ser destinado para um aterro sanitário em Cachoeiro, com transbordo em parceria com as prefeituras de Bom Jesus do Norte e São José do Calçado. No entanto, ainda não foi definido nenhum prazo.
Gazeta Online/Reportagem: Luisa Torre, Mikaella Campos e Natália Bourguignon/Foto: Marcelo Prest
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