Depois de tomar o CNPJ emprestado de um co-irmão, Campos surpreende com ascensão meteórica
A nova sensação do futebol campista não é o Americano, nem o Goytacaz, muito menos o Rio Branco. É o Campos Atlético Associação, que após 26 anos distante dos gramados retorna ao profissionalismo, numa ascensão extraordinariamente meteórica, que compreendeu a disputa das séries C e B para em três anos seguidos alcançar a elite do futebol do Rio de Janeiro.
O segredo do sucesso do Roxinho, fundado em 1912, se resume em algumas poucas palavras que sintetizam a metodologia de trabalho dos dirigentes do clube do Parque Leopoldina: planejamento, profissionalismo e responsabilidade.
—O Campos não faz loucuras. Trabalhamos como os pés no chão. O zagueiro Leandro Eusébio, que foi titular no Fluminense, conversou com a gente, através de seu empresário. Mas como iríamos pagar o seu salário? Aqui, todos ganham um salário bem menor, mas recebem em dia — disse o diretor executivo Vítor Mothé.
E pensar que o clube conseguiu se estabelecer profissionalmente com o CNPJ do time do Carapebus. A explicação é a seguinte: oficialmente, o Campos desfiliou-se da Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj) em 2016. Desde então, suas atividades se limitavam ao futebol amador.
Já o Carapebus,subiu para a Série B do Carioca, em 2011, foi novamente rebaixado para a Série C em 2012 e pediu licença em 2013 e 2014, o que gerou uma dívida de R$ 100 mil com a Ferj a cada ano em que a agremiação se licenciou.
Já o Carapebus,subiu para a Série B do Carioca, em 2011, foi novamente rebaixado para a Série C em 2012 e pediu licença em 2013 e 2014, o que gerou uma dívida de R$ 100 mil com a Ferj a cada ano em que a agremiação se licenciou.
Em 2015, a parceria foi firmada. Afundado em uma crise financeira e sem nenhuma condição de tocar seu futebol profissional, o Carapebus concordou em ceder o CNPJ para que o Campos pudesse disputar a Série C do Carioca.
Em troca, o Campos assumiu o compromisso de arcar com a dívida de R$ 178 mil que o Carapebus tinha com a Ferj. Metade desse valor foi quitada à vista, e o resto, dividido em parcelas a perder de vista. Assim sendo, é correto afirmar que o clube campista comprou a agremiação de Carapebus. Tanto é que Mothé também é, por exemplo, o presidente do Carapebus no papel.
A prática é mais do que comum no futebol do Rio. Para se ter ideia, o valor cobrado pela Ferj para que um clube se filie a ela é de R$ 500 mil. Ou seja, é muito mais viável financeiramente realizar essa manobra, mesmo que o clube tenha que arcar com uma dívida do dono do CNPJ, como foi com o Campos. O Barreira (que virou Boavista), o Tanguá (que virou Gonçalense) e o Belford Roxo (que disputou a Série B com o registro do Santa Cruz) são alguns exemplos.
Reflexo do planejamento implantado no futebol do clube, o técnico Rafael Soriano está no comando da equipe há três anos, algo bastante raro no futebol brasileiro.
— Montamos um grupo capaz de fazer jus às tradições do clube. Dentro desse projeto, tínhamos o plano de consolidar o Campos na Série B e subir para a Série A. Então, já estamos fazendo história. Nós sempre acreditamos nesse grupo — disse o treinador.
ACORDO COM VÁRIOS PATROCINADORES E PARCEIROS
Com a visibilidade alcançada, o Campos fechou contrato com uma empresa que administra o seu futebol. A mesma projeção permitiu que o Roxinho celebrasse acordo com vários patrocinadores e parceiros, como a Global Sports, empresa de gestão de academias de futebol, que estampa a sua marca na camisa do time em dois jogos, contra Nova Iguaçu e Portuguesa. Logo depois, foi a vez das Óticas Precisão aderir ao projeto vitorioso do time.
O diretor-executivo do clube, Victor Mothe, celebrou o acordo com os dois parceiros e espera que outras empresas de Campos façam o mesmo.
— Estamos muitos felizes com essas parcerias. Eles entenderam que o Campos atua de maneira profissional e que o retorno de visibilidade será muito maior do que o investimento. Esperamos que as empresas de Campos façam o mesmo e apoiem o Roxinho—, ressaltou Mothé.
A chegada à divisão principal do futebol do Rio não se deu como esperavam os dirigentes do Roxinho. Ao invés de uma disputa direta com os grandes clubes, o clube tem sido obrigado a disputar um torneio seletivo que apontará apenas duas equipes que se classificarão à Taça Guanabara, junto com os quatro gigantes da capital.
As cotas de televisão, segundo o presidente da Ferj, Rubens Lopes, irão contemplar os quatro clubes de maior investimento, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco, em R$ 1 milhão por jogo, enquanto os clubes de menor investimento vão receber aproximadamente 300 mil reais por partida.
— Nenhum clube recebe uma cota para fazer amistoso maior que ele vai receber por partida no Campeonato Carioca. Cada time grande vai receber R$ 1 milhão por jogo. Falar que o estadual é deficitário agora, é uma distorção de pensamento. Nem no Brasileiro o clube recebe uma cota dessas para jogar em outra praça, nenhum dos 20. E para os clubes de menor investimento também é algo significativo. Tem clube que vai receber cerca de 300 mil reais. Se você considerar que temos quatro meses de competição, dá pra fazer um time bem competitivo—, enfatizou.
O Diário
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