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sábado, 21 de março de 2015

PLANTIO DE EUCALIPTO DIMINUI FLUXO DE ÁGUA NO CAPARAÓ

 
Desde que o eucalipto chegou ao Brasil, se discute seus benefícios e prejuízos. Na região do Caparaó, no sul do Estado, houve município, inclusive, que chegaram a proibir seu cultivo, baseado em estudos de que a árvore traz prejuízos para o meio ambiente, principalmente, quanto ao fluxo de água das regiões onde são encontrados. E, com o tempo, o eucalipto tem mostrado que seus benefícios são pequenos diante dos prejuízos que provoca, inclusive, com impactos econômicos e sociais.
Um dos grandes debatedores da região, que sempre chamou a atenção para os problemas que o plantio desenfreado de eucalipto podia trazer, é o engenheiro agrônomo do Incaper, Geraldo Costa Lima, hoje, no escritório do Instituto em Ibatiba. Ele destaca que o único benefício que é apontado é o de suprir a demanda de madeira existente, evitando a exploração da Mata Atlântica, que não pode ser agredida. Além disso, o desenvolvimento do eucalipto é mais rápido, mas não são todas as variedades, e também existem aquelas que são usadas para a produção de mel, com a sua florada, e para produzir celulose, apontado como um dos que mais consome água.
Além deste mínimo benefício, tudo o mais traz prejuízos para o meio e o homem. Segundo Geraldo Costa Lima, quando plantado em áreas muito extensas, o eucalipto pode interferir na água superficial e também na vida do homem no campo. “Onde entra eucalipto, saem famílias”, afirma. Ele explica que um hectare de lavoura de café é o bastante para gerar dois empregos, enquanto para gerar um emprego são necessários 10 hectares de eucalipto. “Uma relação de 20 para 1”, destaca.
Segundo o estudo “Efectos ecológicos de los eucaliptos”, da FAO-ONU, um eucalipto costuma transpirar 250 milímetros (mm) de água e essa água acaba caindo, como chuva, em outro lugar, geralmente, no caso de nossa região, vai para o oceano. “É como está acontecendo com a Floresta Amazônica. Com seu desmatamento, menos água está chegando à região sudeste, o que provoca a diminuição das chuvas, além dos efeitos do El Niño”, esclarece Geraldo.
E, de acordo com o engenheiro agrônomo, o eucalipto que é usado para a celulose é ainda mais prejudicial no consumo da água, porque tem fibras mais longas e baixa densidade. Além disso, tem um crescimento mais rápido do que o normal, o que demanda mais energia e, consequentemente, mais água. “E já está se falando em transgênico, o que pode piorar essa situação”, afirma. “Esse crescimento vai até sete anos, quando começa a estabilizar, mas aí a árvore é cortada e vai começar a brotar uma nova, que vai demandar mais água de novo”, explica.
Na publicação “Cartilha do Eucalpto”, de Sebastião Pinheiro, editada pela ASPTA, um trecho afirma que “as plantações dessas árvores diminuíram o fluxo dos mananciais em 227 mm/ano, mundialmente (52%), com 13 destes mananciais secando por pelo menos um ano”. E segue: “as plantações podem ajudar a recarregar os mantos subterrâneos e sua ascensão, mas reduzem os fluxos correntes e salinizam e acidificam alguns solos”. No verão, o eucalipto consome ainda mais água, enquanto no inverno a planta entra em seu estado de dormência.
Geraldo Lima destaca que, quanto à ecologia, onde existe eucalipto não aparece nem pardal. “Não aparece um animal, que seja, embaixo das árvores, nem répteis”, enfatiza, lembrando que, por este motivo, alguns comparam o eucalipto a um “deserto verde”.
Dificuldades na comercialização e riscos no transporte
O engenheiro agrônomo do Incaper também destaca que, quando a empresa interessada no plantio de eucalipto chegou à região, ofereceu várias vantagens que, hoje, não existem mais. Segundo ele, a comercialização, atualmente, não é a quarta parte do que já foi. “O produtor tem que cortar, carregar, pagar o frete e colocar dentro do pátio da empresa”, explica.
Além disso, há o risco com o transporte, não só para quem está transportando, mas também para quem trafega nas rodovias das regiões, por causa dos caminhões velhos, carregados de eucaliptos, rodando. “É um risco muito grande, ainda mais com motoristas sem educação e sem preparo atrás dos volantes”, afirma.
Outras opções
Segundo do engenheiro agrônomo, Geraldo Costa Lima, hoje em dia, existem outras opções para florestas plantadas, como é o caso do mogno africano, que também tem crescimento rápido e madeira mais leve, conforme está colocado no livro “Ecologia, Silvicultura e Tecnologia na utilização do mogno africano”. Esta madeira tem sido utilizada para móveis, apesar de leve, por causa de sua alta densidade.
Além disso, existe uma variedade de eucalipto, chamada Saligna, que pode ficar até dentro d’água e não demonstra consumo excessivo de recursos hídricos. No entanto, sua produção de madeira não é significativa e o crescimento é mais lento.
Para plantar
Levando em consideração que o eucalipto não deixa de ser uma opção de renda, para o homem do campo, Geraldo Costa Lima destaca que, antes de qualquer coisa, é preciso escolher o local de plantio com cuidado. “Não pode ser numa área onde se pode cultivar alimento”, destaca. “O produtor deve escolher locais íngremes, de difícil acesso, com solo já degradado e sem fertilidade, onde não se pode plantar mais nada”, afirma.

Marcos Freire/AQUIES
Blog do Jailton da Penha

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